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capuccino e um fim de tarde

Confesso que a ideia não faz sentido. 25º é o calor que eu amo. Mas capuccino que queima a língua não é a bebida comum ou indicada. Mas e dai?

Estou aqui de novo. Da última vez não dava pra ver o Dois Irmãos e o céu tava tão cinza que preteava. Mas as nuvens abriram uma brecha pra lembrar que o sol estava lá e a lua resolveu refletir pra não se esquecer na brechinha. Hoje a Pedra está lotada porque o sol está aqui bem lindo e do jeito que eu amo. Clichê, Vinicius segue cantando no fone. Desculpe aos que acham elite demais, mas Bossa Nova é meu amor de elite. E o sol vai se pôr no mar. O coração preenche um pouco mais. E Deus fala um muito mais. E tem sussurros, conversas, o meu cheiro preferido, areia e vendedores passando pra lá e pra cá. Não é feriado. Na verdade, amanhã é. E acordei e sai atrasada mesmo com despertador de 4h20.

Moro no Rio. Na minha frente tem um grupo conversando em inglês, atrás mulheres com sotaque nordestino e vim pra cá porque ali tinham muitas formigas. Alguém colocou Garota de Ipanema pra tocar. Já disse que meu coração tá quentinho?

Faz muito sentido. Isso aqui a minha volta faz sentido. A criação de Deus e o cuidado dEle pra morarmos aqui, faz sentido com o amor dEle. Diz aí se não faz sentido um Deus de amor criar praia? Aliás, aqui faz sentido andar descalço e sentir o chão.

Nesse cenário não cabe horas de trabalho e salário. Aqui, ou em outra praia, o mar não pergunta quantas línguas você sabe. Nem quanto você tá gastando no hotel que está hospedado, muito menos quanto foi a passagem. O sol não pergunta que horas você acordou ou quanto é a mensalidade do colégio do seu filho. O barulho do mar não quer saber aonde você se formou, nem seu curso. E o cheiro de mar, de água salgada com areia não quer saber sua posição no seu trabalho.

Eu sou descendente de escravos. Da senzala mesmo. Não vim da Casa Grande. O que significa que sei bem e a cada vez que o dinheiro cai na conta o que é precisar administrar pra ter as necessidades supridas. E equilibrar tudo o que consegue pra tentar ter também um pouco de conforto e dar isso a família. Mas não é mais importante quanto vale o dia de trabalho que o sorriso de criança. Do meu trio feliz porque é da Lufa-Lufa e a tia Elisa também. Ou a risada da menina aqui na minha frente que nunca vi na vida. Da minha família gargalhando com uma coisa boba num dia qualquer de rotina. E de gritar o que ta vendo pra todo mundo comentar algo. Ou dos familiares rindo dos causos, dividindo opiniões de como acordamos e relembrando de trocentas situações.

Eu sei da necessidade que essa sociedade louca criou pra ter dinheiro. Mas eu sei também que você, sim você, é mais que isso. Você conhece um abraço casa e já se emocionou. Você já tomou café no calçadão de Ipanema com as pessoas com suas água de côco na mão sem entender. Você já gargalhou fora de hora. Você já descobriu em si mesmo uma companhia amável. Você chorou de alegria e de uma tristeza bem profunda. Você precisa de terapia por alguma coisa. Você já sentiu inseguro e alguém incrível no mesmo dia. Você foi super egoísta e descobriu e quis se consertar.

É, você! Você tem uma vida e ela não se compra com reais, dólares ou libras. O trocadilho é ruim, mas reais não te darão a essência do que é real. Isso vem com amor. Descubra e viva! Descubra aquele detalhe. Olhe pra baixo, as crianças estão te olhando. Veja o pôr-do-sol e sinta a chuva. Faça algo bobo mesmo que te olhem sem entender. Diz eu te amo pra alguém que você ama. Cante uma música da sua infância (e prepara seu cover de infância pra música nova de Rouge!). Reveja aquele filme. Aprenda uma língua nova não pra colocar no currículo, mas pra visitar aquele país. Usa a sua roupa mais confortável. Descombine. Saia só você mesma. Experimenta um sabor novo de chá. Descubra e viva! Com vida e verdade.

Espero que descubra em sua cidade algo que ame tanto quanto amo esse bairro. Que descubra seu coração quentinho e seu espaço pra se ficar consigo mesmo. Um lugar que possa dizer “até tristeza é menos triste em qualquer rua de Ipanema”.

Espero que encontre a vida em abundância!

Elisa Gonçalves - Pedra do Arpoador - 14.11.2017


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